Brasil tem potencial para se destacar internacionalmente no campo da física médica

Em entrevista ao podcast Prato do Dia, o docente e físico nuclear Joel Mesa explica os fundamentos desse campo, que nasceu da combinação do conhecimento físico com a prática médica, e explica o passo importante que o Brasil dará nos próximos anos para assegurar sua independência no acesso aos insumos da área.

Denomina-se físico médico ao profissional que trabalha com a aplicação dos conhecimentos da física para fins de diagnóstico e tratamentos de patologias e condições. Gradativamente, a especialidade está ganhando mais espaço no campo dos cuidados em saúde, e a Unesp é uma das poucas universidades do Brasil que oferece um curso de graduação nessa área. “É uma especialidade nova, que simplesmente não existia até 25 anos atrás”, diz o físico nuclear Joel Mesa Hormaza, que é docente do Departamento de Física e Biofísica do Instituto de Biociências da Unesp, câmpus de Botucatu. Ele falou sobre a pesquisa e o potencial do campo na nova edição do Prato do Dia, o podcast da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.

As origens dessa área remontam ao desenvolvimento da física moderna. Um passo importante decorreu quando da descoberta do rádio pelo casal Marie e Pierre Curie, no início do século 20. Pierre notou que, ao cair em sua pele, o rádio causava-lhe queimaduras, e enxergou o potencial do uso do novo elemento com o intuito de destruir tumores. “Ou seja, foi uma descoberta  a partir de associações realizadas por um físico e que, futuramente, seria amadurecida por físicos médicos”, conta Hormaza.

“Já naquela época, mais de 100 anos atrás, surgiu a percepção de que material radioativo poderia ser útil para tratamento. De fato, hoje coloca-se uma fonte radioativa perto do tumor capaz de emitir radiação localmente e assim destruí-lo. Isso demanda cálculos e, no contexto brasileiro, quem realiza esses cálculos, de forma geral, é o físico médico”, diz.

São vários os exemplos de equipamentos que fazem parte do cotidiano dos hospitais, como os aparelhos de ressonância magnética, de ultrassonografia e de raio x, que surgiram da junção das duas áreas, a física e a medicina. O bom funcionamento deste maquinário demanda um acompanhamento constante, a fim de assegurar que alcancem a precisão que é essencial para um diagnóstico correto. “O físico médico dentro do hospital ajuda para que as coisas funcionem melhor. Isso permite ter certeza de que o que se está vendo na tomografia, no ultrassom ou na mamografia realmente é sinal de alguma doença, ou não”, explica o professor.

As atualizações na área são frequentes, e o uso da Inteligência Artificial já é uma realidade. “Hoje estão sendo utilizados modelos de Inteligência Artificial para otimizar a maneira como este radioisótopo libera o material radioativo quando vai transitando pelo corpo do paciente”, conta o professor. Um exemplo de aplicação é o uso de IA para que o feixe de radiação, que deve entrar em contato apenas com o tumor, acompanhe a respiração do paciente, possibilitando um tratamento mais certeiro e com menos sequelas. “A inserção de IA na física médica tem buscado garantir melhores condições para os enfermos”, diz o físico.

No Brasil, um passo importante para consolidar este campo é a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que se iniciou este ano. Trata-se de um reator de pesquisa que, após sua entrega, permitirá que o Brasil se torne autossuficiente em radioisótopos de Molibdênio-99, elemento essencial para a produção de Tecnécio-99m, utilizado em cerca de 80% de procedimentos da medicina nuclear. Também será possível a produção de outros radioisótopos igualmente importantes para a medicina, os quais, atualmente, o Brasil é obrigado a importar.

Com a entrada em ação deste novo equipamento, prevista para 2030, o Brasil irá reduzir o risco de desabastecimento de material e baratear custos de produção de radiofármacos e de realização de exames. Para Hormaza, esse novo momento vai trazer também novas possibilidades. “Certamente, vamos conseguir atender nosso abastecimento. E poderemos exportar, para outros países, tecnologia e materiais com o propósito de  diagnóstico e tratamento”, diz. “Será uma condição privilegiada no âmbito mundial.”

Para ouvir a íntegra do novo episódio do Prato do Dia basta clicar abaixo.

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